sábado, 8 de março de 2014

CNBB faz abertura oficial da Campanha da Fraternidade 2014

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriu oficialmente a Campanha da Fraternidade de 2014 nesta quarta-feira de Cinzas, dia 5 de março, em sua sede em Brasília /DF. Este ano, a campanha aborda o tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Representantes do governo e entidades da sociedade civil marcaram presença na solenidade, entre eles: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso; o representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcello Laverene Machado; e a secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), pastora Romi Márcia Bencke.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, presidiu a cerimônia. Segundo Dom Leonardo, a Igreja inicia um “tempo de conversão” se tratando da Quaresma. No Brasil, a Conferência dos Bispos apresenta a Campanha da Fraternidade “como itinerário de libertação pessoal, comunitária e social”.
Para Dom Leonardo Steiner, a CF 2014 quer contribuir na identificação das práticas do tráfico humano em suas várias formas. “O tráfico humano de hoje é, certamente, fruto da cultura que vivemos. A Campanha da Fraternidade, ao trazer à luz um verdadeiro drama humano deseja despertar a sensibilidade de todas as pessoas de boa vontade”, explicou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, disse que o governo se une à CNBB e às demais entidades na luta contra o tráfico de pessoas. Para o ministro, o Estado deve reagir frente a essa realidade. “É inaceitável um crime como o tráfico humano e que pessoas sejam tratadas como objetos, como escravos. Não importa a modalidade deste crime. Ele tem que ser objeto de uma reação muito forte da sociedade moderna, do Estado moderno”, disse.
Dignidade humana

Para a secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), pastora Romi Márcia Bencke, é necessário debater a temática do tráfico humano de forma aberta e coerente. “A Campanha da Fraternidade nos coloca um grande desafio de falar honestamente das hierarquias econômicas, sociais e culturais, que acabam legitimando esse tipo de exploração humana”, apontou a pastora.
O representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcello Laverene Machado, destacou que a OAB reconhece a CNBB como uma parceira de lutas em defesa da dignidade humana. “A Campanha da Fraternidade vai chamar a atenção para essa grande chaga que é a opressão, o abandono, em uma sociedade estruturada sob bases injustas, visando apenas o consumismo e o capitalismo. Que cada brasileiro nesta campanha, lute pelo desaparecimento do tráfico humano”, concluiu.
 
Fonte: CNBB

Quaresma: tempo de conversão ao amor ao próximo

Na audiência geral desta última quarta-feira, dia 05 de março de 2014, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem aos peregrinos presentes na Praça de S. Pedro sobre o novo tempo litúrgico que se inicia, a Quaresma:
“No tempo da Quaresma, a Igreja faz-nos dois importantes convites: tomar consciência mais viva da obra redentora de Cristo, e a viver com mais empenho o nosso Batismo”.
A consideração por tudo quanto Jesus fez pela nossa salvação cria em nós a gratidão – continuou o Santo Padre - e a forma de agradecer o imenso amor de Jesus, que Se deixou crucificar por nós, é a nossa conversão: é darmo-nos a Ele, amando os nossos irmãos. Contudo, para nos convertermos e amarmos os irmãos não nos podemos habituar à violência – afirmou o Papa – aos irmãos que dormem na rua, aos refugiados à procura de liberdade e dignidade. Uma sociedade onde os pais já não ensinam os filhos a rezar e a fazer o sinal da cruz. O Papa Francisco perguntou-o diretamente a todos os presentes:
“Os vossos filhos e os vossos netos sabem fazer o sinal da Cruz? - pensai no vosso coração - e sabem rezar o Pai-Nosso e a Ave Maria?”
É por todas estas interrogações e inquietações que a Quaresma é importante:
“Por isto a Quaresma é o momento favorável para nos convertermos ao amor do próximo: um amor que saiba fazer própria a atitude de gratuidade e de misericórdia do Senhor ‘que se fez pobre por nós para nos enriquecer com a sua pobreza’ “.
Desta forma – concluiu ao Papa - somos chamados a viver profundamente o nosso Batismo com uma viragem, uma conversão que nos faça sair da resignação e habituação ao mal em nós e ao nosso redor.
“Neste caminho, queremos invocar com particular confiança a proteção e ajuda da Virgem Maria: que seja Ela, primeira crente em Cristo, a acompanhar-nos nos dias de oração intensa e de penitência, para chegar e celebrar, purificados e renovados no espírito, o grande mistério da Páscoa do seu Filho”.
No final da audiência o Papa Francisco saudou também os peregrinos de língua portuguesa:
“Com ânimo feliz e agradecido, saúdo o grupo vindo de Ribeirão e de Guimarães e também os professores e os alunos das comunidades escolares da Lourinhã e de Viana do Castelo. Sobre vós e demais peregrinos de língua portuguesa, invoco a proteção da Virgem Maria. Que Ela vos tome pela mão durante os próximos quarenta dias, ajudando-vos a ficar mais parecidos com Jesus ressuscitado. Desejo-vos uma santa e frutuosa Quaresma”.

Jejum, Esmola e Oração

O tempo é um presente de Deus, quando visto a partir da experiência humana, pois não significa apenas uma categoria física, mas oportunidade para o crescimento das pessoas. Pra nós cristãos, é ocasião privilegiada para a graça de Deus atuar em nossas vidas, iluminando nossas escolhas e orientando o dia a dia.
A Quaresma, apenas iniciada, é uma forma de viver o tempo nas próximas semanas, oferecida pela Igreja aos fiéis. É ainda ocasião para uma Campanha de Opinião Pública, que chamamos "Campanha da Fraternidade", nossa contribuição para que a sociedade se torne mais fraterna, justa e igualitária. Neste ano de 2014, trataremos de um tema desafiante, o tráfico humano, realidade dolorosa, presente de diversas formas em todas as regiões de nosso país. Para nós, na Amazônia, brote um grito em prol da fraternidade e da superação do mal do tráfico de pessoas, que nos toca bem de perto. Estamos, pois, num "tempo forte" da vida cristã, que faz os dias, em si iguais em seu amanhecer, sol ou chuva, por do sol ou noite, chuva, vento, frio ou calor, se transformarem e adquirirem um colorido diferente. Vem de dentro a possibilidade de aproveitar este período. Quaresma não é tempo de fatos ou fenômenos extraordinários, como muita gente ainda tem receio. Pode até acontecer que algumas pessoas "peguem carona" na Quaresma da Igreja para espalhar o medo ou anúncio de dificuldades ou catástrofes. É bom saber que os dias e as estações continuam do mesmo jeito, que as pessoas ao nosso lado podem não estar nem aí para nossos atos de piedade ou práticas quaresmais. Sentir-se-ão atraídas à vida da Igreja quando virem nosso testemunho coerente de vida cristã. Aí muitas outras pessoas desejarão fazer mortificações e jejuns, dedicarão mais tempo à oração e se converterão ao amor de caridade.
Como a Quaresma depende de escolha, nosso convite chegue a todos os cristãos, assim como tantos homens e mulheres de boa vontade, para que abram os corações e as mentes a Jesus Cristo, Senhor e Salvador da humanidade, Caminho, Verdade e Vida. Nele está a fonte de vida e de felicidade. Seu amor misericordioso quer alcançar a todos, sem exceção. Ele não se cansa de perdoar e acolher as pessoas. A Igreja quer ser a Casa da Misericórdia para todas as pessoas, especialmente para quem se sente estropiado e cansado pelas labutas da vida.
Jesus convida todos os homens e mulheres a segui-lo, tornando-se discípulos seus. Quem aceita o seu chamado inicia um processo de conversão, que quer dizer mudança de mentalidade, com a consequente mudança de rota na vida. São Paulo descreveu com maestria esta vida nova: "Tendo vós todos rompido com a mentira, que cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Podeis irar-vos, contanto que não pequeis. Não se ponha o sol sobre vossa ira, e não deis nenhuma chance ao diabo. O que roubava não roube mais; pelo contrário, que se afadigue num trabalho manual honesto, de maneira que sempre tenha alguma coisa para dar aos necessitados. De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar e de fazer bem aos ouvintes. Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, com o qual fostes marcados, como por um sinal, para o dia da redenção. Desapareça do meio de vós todo amargor e exaltação, toda ira e gritaria, ultrajes e toda espécie de maldade. Pelo contrário, sede bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Deus vos perdoou em Cristo. Sede, pois imitadores de Deus como filhos queridos. Vivei no amor, como Cristo também nos amou e se entregou a Deus por nós como oferenda e sacrifício de suave odor. A imoralidade sexual e qualquer espécie de impureza ou cobiça nem sequer sejam mencionadas entre vós, como convém a santos. Nada de palavrões ou conversas tolas, nem de piadas de mau gosto: são coisas inconvenientes; entregai-vos, antes, à ação de graças" (Ef 4,25 - 5,4). Para chegar lá, é necessário exercitar-se, e muito! Na Quaresma, os cristãos se dedicam, de forma especial, a três práticas formativas de sua vontade no seguimento de Jesus Cristo, que nos ajudam a assumir a vida nova assim descrita. Relacionamento consigo, com o próximo e com Deus.
A primeira delas é chamada de mortificação, abstinência, ou  jejum. As três expressões servem para indicar o processo de educação da vontade. Moderar o uso do alimento, escolher práticas que orientem nossos impulsos instintivos. Muitos o fazem por motivos de saúde ou por razões estéticas, enquanto nós desejamos fazê-lo para a educação da vontade e para partilhar o fruto do jejum com as pessoas necessitadas.
A segunda tem o nome de esmola, palavra, quem sabe, desgastada,  que é o exercício das obras de misericórdia, ações caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar, são obras de misericórdia espirituais, como perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporais consistem em dar de comer a quem tem fome, albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos. A esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna e também uma prática de justiça que agrada a Deus (Catecismo da Igreja Católica 2447). "Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos, faça o mesmo" (Lc 3, 11). "Dai antes de esmola do que possuis, e tudo para vós ficará limpo" (Lc 11, 41).
Enfim, intensificar a prática da oração, em todas as suas formas, é o terceiro exercício com o qual os cristãos se comprometem na Quaresma, abrindo-se para Deus e dedicando tempo e qualidade de relacionamento com o Senhor. Rezar mais e rezar melhor!
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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL